Monday, September 08, 2008

Incontinente (por Desobediente)



Não há gesto que não diga

Então me olhe

Porque falo inteiro

E falar é preciso

Afirmando sempre

Em ato, teimosia

A suspeita que temos

Transformando sempre

Suspeita em poesia

Mas para que se diga

Isso e aquilo

Qual a matéria-prima do gesto insano?

À loucura do tempo

Se não houve respostas

Como responde

Quem chamou o teu nome?

Como respondem

Os que seguem aqui

Não aptos aos hábitos

Não aptos aos muros

Ao confronto desmedido

De murros e gritos?

Covardes seguimos

Aqui de favor

E a dor nos olhos

De quem morreu comigo

Não me perdoa por ter ido antes

E dor aqui é o que há de redundante

A morte não

Que por ser fim

Não chega nunca a ser bastante

Mas quanto e de quantos

Ainda esperar ainda

O gesto radical e pleno

Da vida plena

Se a mediocridade do mundo continua

O rito mortal de assassinato?

Quem enfrenta o ridículo

Do que ainda vale a pena

Se as melhores vitalidades

De um mundo possível

Seguem vivendo em suicídios?

Precário e reduzido

Satisfaz aos ridículos

Que dizem “mundo” este cubículo

Então o riso

Para que tenha a medida

Esta que ora é tão rala

Quem sabe então seja vida

Vívida, ávida, plena

Talvez assim valha a pena

Afinal, a reduzida

Que os gestos não aprisionem palavras

Que todas elas sejam ditas

LARVA

O Livro - escultura esculpido pelo artista americano Brian Dettmer


LARVA

Nas páginas palavras

Revolvendo, lavra revelando-as

Larva que se resolve livre

Devorando e devolvendo

Desenvolve-se

Enquanto o livro que se extingue

Livra-se das palavras