Não há gesto que não diga
Então me olhe
Porque falo inteiro
E falar é preciso
Afirmando sempre
Em ato, teimosia
A suspeita que temos
Transformando sempre
Suspeita em poesia
Mas para que se diga
Isso e aquilo
Qual a matéria-prima do gesto insano?
À loucura do tempo
Se não houve respostas
Como responde
Quem chamou o teu nome?
Como respondem
Os que seguem aqui
Não aptos aos hábitos
Não aptos aos muros
Ao confronto desmedido
De murros e gritos?
Covardes seguimos
Aqui de favor
E a dor nos olhos
De quem morreu comigo
Não me perdoa por ter ido antes
E dor aqui é o que há de redundante
A morte não
Que por ser fim
Não chega nunca a ser bastante
Mas quanto e de quantos
Ainda esperar ainda
O gesto radical e pleno
Da vida plena
Se a mediocridade do mundo continua
O rito mortal de assassinato?
Quem enfrenta o ridículo
Do que ainda vale a pena
Se as melhores vitalidades
De um mundo possível
Seguem vivendo em suicídios?
Precário e reduzido
Satisfaz aos ridículos
Que dizem “mundo” este cubículo
Então o riso
Para que tenha a medida
Esta que ora é tão rala
Quem sabe então seja vida
Vívida, ávida, plena
Talvez assim valha a pena
Afinal, a reduzida
Que os gestos não aprisionem palavras